terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Reminiscências de Dr. Tancredo de Almeida Neves em 1944

O Blog de São João del-Rei tem o prazer de hospedar um texto da autoria da são-joanense Celina dos Santos Braga, publicado pela Academia de Letras de São João del-Rei em revista comemorativa do centenário de nascimento do Dr. Tancredo de Almeida Neves, lançada em 28 de dezembro de 2010.

Reminiscências de Dr. Tancredo de Almeida Neves em 1944*

Réminiscences du Dr. Tancredo de Almeida Neves en 1944

Por Celina dos Santos Braga

Francisco Nestor dos Santos (✯ Barroso, 26/02/1900  ✞ São João del-Rei, 06/02/1946)

Francisco Nestor dos Santos, meu pai, natural de Barroso mas são-joanense de coração, foi homem trabalhador, inteligente e dinâmico. Gostava de sua profissão de eletricista e dedicava-se com amor a suas tarefas, a ponto de carregar a escada nos ombros para desempenhar seu trabalho. É claro que fazia isso e muitos outros exageros por não haver ainda a proteção do trabalhador em seu local de trabalho, como hoje.

Como era pessoa correta, teve a sorte de encontrar-se, à porta da estação ferroviária da E.F.O.M.- Estrada de Ferro Oeste de Minas, com um espanhol de nome João Sanchez Robles que procurava algum sócio para abrir um ferro-velho, o primeiro em São João del-Rei. Foi assim que, tendo aceito o convite, trabalhou, se dedicou à nova profissão e se enriqueceu com honestidade.

Exercendo seu trabalho como eletricista, era comunicativo e se cercou de muitos amigos, entre os quais de Dr. Tancredo de Almeida Neves, para quem prestou inúmeros serviços em sua residência, onde funciona a “Gazeta de São João del-Rei”. Sabedor do prestígio que gozava a pessoa admirável de Dr. Tancredo e da simpatia que transmitia a todos os que dele se aproximavam, meu pai teve a oportunidade de consagrar-lhe toda a amizade e apreço. Quando aquele precisava dos serviços de meu pai, este o atendia com a maior presteza e dedicação. Assim foi a boa convivência desses dois grandes amigos, e nossa também, de seus filhos.
Tancredo de Almeida Neves (✯ São João del-Rei, 04/03/1910  ✞ São Paulo,  21/04/1985)


Como toda pessoa que se enriquece e cresce na profissão, meu pai cercou-se não só de muitos amigos, como foi dito, mas também de pessoas invejosas de seu progresso. Certa ocasião, trabalhando no depósito de ferro-velho, adquiriu de um adulto uma roda grande, que, conforme veio a saber depois, pertencia à “Caieira” do Coronel Amorim. Alguém invejoso delatou que a referida roda estava de posse de papai. Por isso, ele foi acionado judicialmente pelo dono da roda, o qual exigia a sua restituição, tendo levado o delegado Dr. Nabor a retê-lo por um dia.

Minha família ficou transtornada com o incidente. Não me restou senão ir, com apenas 16 anos, à residência de Dr. Tancredo pedir-lhe para soltar meu pai. Nessa ocasião, eu não passava de uma adolescente, aluna do Colégio Nossa Senhora das Dores, mas era eu quem cuidava das correspondências comerciais de meu pai. Dr. Tancredo deu uma solução imediata ao problema e trouxe papai consigo para o convívio da família.

É claro que ainda mais cresceu nossa amizade.

Depois, Dr. Tancredo subiu na política até se tornar Primeiro Ministro. Infelizmente, contudo, papai não viu sua ascensão, pois faleceu eletrocutado, enquanto trabalhava como eletricista. Mais uma vez, Dr. Tancredo mostrou sua amizade sincera para com nossa família, pois foi o inventariante do espólio deixado por meu pai.

Com justa razão, portanto, eu considero Dr. Tancredo um político ímpar, meu ídolo, a quem serei eternamente grata pelos bens que nos proporcionou, primeiro como amigo, depois como estadista.

* Este artigo saiu publicado na Revista da Academia de Letras de São João del-Rei, Ano IV, nº 04, 2010 (número especial dedicado às comemorações do centenário de nascimento do Dr. Tancredo de Almeida Neves), p. 143-144.



* Celina dos Santos Braga nasceu em 23 de janeiro de 1928 na Rua Coronel Tamarindo em São João del-Rei, sendo a quarta filha de Francisco Nestor dos Santos, natural de Barroso-MG, e Brasilina Sebastiana dos Santos, natural de Vitoriano Veloso, distrito de Prados-MG. Fez o curso primário no Grupo Escolar Maria Teresa, quando este estava situado na residência que pertenceu ao Deputado Mateus Salomé. Obteve o grau de Normalista em 1945 no Colégio Nossa Senhora das Dores, tendo sido aluna do Tenente João Cavalcanti, Domingos Horta, Monsenhor José Maria Fernandes e Irmã Maria Lanna (autora do hino do Colégio), dentre outros. Durante os anos em que cursou esse educandário, foi soprano no coral “Orfeão”, dirigido pelo Tenente João Cavalcanti. Mais...

Colaboradora: Celina dos Santos Braga


Por Francisco José dos Santos Braga
 

Celina dos Santos Braga nasceu em 23 de janeiro de 1928 na Rua Coronel Tamarindo em São João del-Rei, sendo a quarta filha de Francisco Nestor dos Santos, natural de Barroso-MG, e Brasilina Sebastiana dos Santos, natural de Vitoriano Veloso, distrito de Prados-MG.

Fez o curso primário no Grupo Escolar Maria Teresa, quando este estava situado na residência que pertenceu ao Deputado Mateus Salomé. Obteve o grau de Normalista em 1944 no Colégio Nossa Senhora das Dores, tendo sido aluna do Tenente João Cavalcanti, Domingos Horta, Monsenhor José Maria Fernandes e Irmã Maria Lanna (autora do hino do Colégio), dentre outros. Durante os anos em que cursou esse educandário, foi soprano no coral “Orfeão”, dirigido pelo Tenente João Cavalcanti.

Logo após sua formatura, foi nomeada professora na Escola Rural que funcionava na estação ferroviária César de Pina (na atual localidade conhecida por Águas Santas), no município de Tiradentes-MG, tendo que se deslocar diariamente até ali para lecionar para crianças que residiam nas imediações, durante os anos de 1945 e 1946. Dentre outras crianças, suas alunas, pode-se citar os filhos de João Longatti.

Casou-se em 15 de fevereiro de 1947 com Roque da Fonseca Braga, com quem teve 8 filhos. Educou-os com muita dedicação, tendo todos conquistado pelo menos o grau de Bacharel nas mais diversas áreas do conhecimento.

Cursou o Conservatório Padre José Maria Xavier, no período de 1971-1976. Merecem destaque especial nessa época o Diretor Abgar Antônio Campos Tirado e os Professores Milton Cunha e Joaquim Rocha (Percepção Musical) e Euclides José Correia (Canto e Piano), dentre outros.

Cantou no “Coral Opus 78”, sob a direção do Prof. André Luis Dias Pires, que acumulava a função de Regente do referido coral com a de professor de Percepção Musical e de História da Música. Digno de destaque é o Glória em ré maior (RV 589), de Vivaldi, que fazia parte de seu repertório. Em razão de doença de seu marido e seu posterior falecimento, ficou afastada do piano por quase 30 anos. Atualmente é aluna particular da Prof. Maria Amélia Viegas.

Há 30 anos é catequista da Paróquia Nossa Senhora do Pilar sob a competente direção do Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva.